terça-feira, 26 de março de 2019

POR QUE ADOTAR A PRÁTICA DE LEITURA LITERÁRIA EM SALA DE AULA?


Por: Nanin Loustau Oyambure 

A literatura está presente em todas as esferas sociais, circunda-nos tanto de forma escrita, quanto de forma oralizada, fazendo parte do universo ficcional, adulto e infantil. Nas palavras de Antônio Cândido (1999, p.105)a literatura corresponde à necessidade universal de dar forma à fantasia, inclusive (talvez sobretudo) a fim de compreender melhor a realidade”.
O autor afirma que o indivíduo tem necessidade profunda do imaginário, sendo indispensável o direito à literatura, para tanto, desassociar a prática da leitura literária em sala de aula, não propiciar a atmosfera para que os pequenos venham a adquirir o gosto pela leitura, não apresentar obras literárias e autores, é privar o aluno do direito à arte literária, ou seja; ao deleite, à fantasia, ao conhecimento, à fruição. A utilização da literatura deve ser percebida como uma ferramenta poderosa para proporcionar às crianças visão de mundo, o sociólogo e ensaísta Todorov (2009) argumenta que a literatura tem o poder de transformar e revelar ao leitor outras perspectivas de mundo; ademais de abastece-lo de imaginação, criatividade, criticidade, pois há um resgate emancipatório em sua essência.
 Para tanto, é mister que o professor, faça uma ruptura da elitização quanto ao acesso a literatura, ao ofertar aos seus educandos uma variedade de gêneros literários, bem como, os diversos gêneros textuais que circulam tanto no cotidiano escolar (educação formal) quanto no âmbito familiar (educação informal), entretanto, vale salientar que é dever da escola apresentar e disponibilizar o acesso a esse material.  A imersão ao universo letrado, através da leitura literária na infância, prepara melhor a criança para resolver problemas do cotidiano, conflitos internos, dando-lhe condições para administrá-los com equilíbrio, para (CANDIDO, 2011, p.177), “ A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas”, ou seja, podemos viver experiências inauditas, através de outrem, os personagens emprestam ao leitor os dilemas, os sofrimentos, a felicidade, isto é, vivo, sofro, amo, desejo, morro, de forma figurada, entretanto, o autor reconhece que a literatura não é inofensiva, por esse motivo os professores têm de selecionarem de forma criteriosa as obras que irão apresentar às crianças.
Os Parâmetros Curriculares da Língua Portuguesa, apontam que faz-se necessário dentro do âmbito educacional, a utilização do  “patrimônio cultural da infância”; ou seja, o livro, este acesso viabiliza o desenvolvimento intelectual da criança.
 O livro literário não pode ser tratado somente para fins pedagógicos, uma vez que é um produto artístico e cultural, e está para além de alfabetizar, o hábito da leitura é adquirido quando o professor, ou a família da criança, frequentam os livros com assiduidade, estimulando de forma agradável, convidando-os para a fruição literária.
 Entretanto, um dos recursos pedagógicos mais utilizados pelos professores em sala de aula após a leitura de alguma obra, é propor aos seus alunos que produzam textos a respeito do tema abordado na história, que causa muitas vezes enfado às crianças, afastando-as dos livros.
[...]Com isso, é possível afastar uma série de equívocos que costumam estar presentes na escola em relação aos textos literários, ou seja, tratá-los como expedientes para servir ao ensino das boas maneiras, dos hábitos de higiene, dos deveres do cidadão, dos tópicos gramaticais[...] (MEC, 1997, p.30).
Fazer uso da literatura somente para fins pedagógicos, causa muitas vezes o distanciamento das crianças com relação aos textos literários, tal estratégia pode vir a ser substituída por exemplo; por convites a visitas periódicas/assíduas à biblioteca da escola, para que primeiramente escolham um livro, e façam uma leitura silenciosa, após a leitura compartilharem com os colegas do que se tratava a história. Ou a dinâmica do “eu indico”, (combinado com a turma) que em um determinado dia da semana, durante a roda de conversa, o aluno que tivesse lido alguma história, conto, poesia, ou história em quadrinhos (HQ), indicasse a obra, o autor, para a classe, narrando alguns fatos interessantes, para aguçar a curiosidade dos colegas e fazê-los quer ler o livro.
A utilização dessas estratégias são aprazíveis, tanto para o professor quanto para os alunos, causando, interação entre as crianças, divertimento, troca de informações, eloquência, desinibição, não causando traumas ou aversões a leitura; o professor leitor, gera o hábito da leitura em seus alunos.
Fazer com que a criança, passe a evitar os livros, fazê-la desenvolver aversão à leitura literária, é voltar a concepção do século XVIII, na qual a sociedade da época, pensava para a classe popular a seguinte realidade: conforme afirma Zilberman (2003)
A criança burguesa deve ser preparada para assumir sua função dirigente, a criança pobre precisa ser amparada para converter-se em mão de obra. Em ambos os casos, a finalidade social é única, porém o treino recebido é personalizado: para liderar, o ser humano demanda unidade interior e saúde mental, enquanto do proletário, para cumprir sua missão, são exigidas confiança na classe dominante e saúde física. (ZILBERMAN, 2003, p.59).
A democratização da leitura, faz-se imprescindível para que ocorra uma interrupção da ideologia latente do século XVIII , e  seja viável a erradicação do analfabetismo literário.




Os professores e alunos de Macapá podem usufruir do acervo e espaço artístico que a Biblioteca Pública Profa. Elcy Lacerda oferece.






Fonte: Acervo Pessoal, 2016


BIBLIOGRAFIA
 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Lingua Portuguesa/ Secretaria da Educação Fundamental—Brasília: 144p. 1997.
CÂNDIDO, Antônio. Literatura, espelho da América? Remate de males, Campinas, p.105-113, 1999. Número especial. Disponível<http://revistas.iel.unicamp.br/index.php/remate/article/view/3563/300> Acesso 03  setembro 2017.
TODOROV, Tzvetan A literatura em Perigo. Rio de Janeiro: Difel, 2009.
ZILBERMAN, Regina.A Literatura Infantil na Escola. São Paulo: Global, 2013